Há muitos anos venho ouvindo críticas, palavras preconceituosas, e outras dificuldades envolvendo a data do natal. No início de minha caminhada critiquei um pouco o natal, influenciado por pessoas com poucas informações, e assim defendi um ponto de vista sem conhecer a grandiosidade do mesmo. Isso mesmo, até porque a moda natalina entre muitos cristãos é falar contra o natal, é bacana falar de um assunto que não conhecemos e confesso, fazia a mesma coisa até realmente me aproximar da representação natalina.
O natal, segundo Claudionor Correa de Andrade, é um dia observado pelos cristãos ocidentais para comemorar o nascimento do Senhor Jesus Cristo: 25 de dezembro. Essa definição não é somente protestante, mas católica também, onde o nosso pais e muitos outros lembram das mais variadas formas a graça divina sobre a humanidade. Sobre a data exata do nascimento é um pouco confuso identificarmos, no inicio do cristianismo já havia divergências a respeito da data comemorativa. Nos primeiros séculos o dia oficial, ora dia 6 de janeiro, ora dia 25 de março, e em alguns lugares dia 25 de dezembro. A data oficial foi sancionada pelo papa Julio I, no IV século, a mesma escolhida foi o dia 25 de dezembro. Bom, somente para conhecimento o mesmo papa foi um grande defensor da doutrina Trinitariana, inclusive abrigando Atanásio em um período de seu exílio fé. Vários motivos levaram há esse dia, uma delas (talvez esteja aqui o problema) foi a ideia de “cristianizar” algumas festas pagãs realizadas justamente nessa data: a festa mitraica. A festa mitraica, era uma festa persa que rivalizava com o cristianismo nos primeiros séculos, onde nesse dia comemorava o nascimento do vitorioso sol, e várias outras festividades de correntes solstício do inverno como os saturnalia de Roma, e os cultos solares entre os celtas e os germânicos. As noites nesses lugares eram mais frias e longas e os povos pagãos ofereciam sacrifícios propiciatórios e suplicavam o retorno da luz. Surge ai a liturgia natalina Cristã retomando claramente a ideia de Cristo como a verdadeira luz do mundo.
Pensando no natal Cristão, se falarmos do sentido natalino não podemos desprezar o que a Bíblia nos diz, e temos que começar citando alguns textos que o retratam muito bem:
E tu, Belém-Efrata, pequena demais para figurar como grupo de milhares de Judá, de ti me sairá o que há de reinar em Israel, e cujas origens são desde os tempos antigos, desde os dias da eternidade. Miquéias 5:2
Portanto, o Senhor mesmo vos dará um sinal: eis que a virgem conceberá e dará à luz um filho e lhe chamará Emanuel. Isaías 7:14
Porque um menino nos nasceu, um filho se nos deu; o governo está sobre os seus ombros; e o seu nome será: Maravilhoso Conselheiro, Deus Forte, Pai da Eternidade, Príncipe da Paz; para que se aumente o seu governo, e venha paz sem fim sobre o trono de Davi e sobre o seu reino, para o estabelecer e o firmar mediante o juízo e a justiça, desde agora e para sempre. O zelo do SENHOR dos Exércitos fará isto. Isaías 9:6-7
Considerando esses textos (existem muitos outros), um dos motivos (porque não dizer o principal) do natal é o período de reflexão sobre a doutrina da encarnação do Verbo, que deveria ser um dos motivos mais fortes. No Antigo Testamento percebemos que o momento de expectativa era o nascimento do “libertador” do povo e todos aguardavam com ansiedade, principalmente após o domínio babilônico sobre Israel. Quando os escritores dos evangelhos começam retratar as mensagens do nascimento citam profecias do AT, sempre com grande alegria. No relato do nascimento não podemos deixar passar desapercebido os louvores entoados pelos anjos, como descrito por Lucas, e deveriam ser pronunciado por todos os homens: O anjo, porém, lhes disse: Não temais; eis aqui vos trago boa-nova de grande alegria, que o será para todo o povo: é que hoje vos nasceu, na cidade de Davi, o Salvador, que é Cristo, o Senhor. E, subitamente, apareceu com o anjo uma multidão da milícia celestial, louvando a Deus e dizendo: Glória a Deus nas maiores alturas, e paz na terra entre os homens, a quem ele quer bem. Lucas 2:10-14.
Infelizmente hoje a data é mais comercial do que cristã, os valores á objetos, símbolos natalinos, são tão enfatizados que o verdadeiro sentido do natal é sufocado a cada dia. Um dos grandes exemplos são os motivos errados para presentear uma criança: moeda de troca por comportamento. Bom, pelo menos é o que consigo enxergar quando vejo um pai dizer ao seu filho: vai ganhar esse presente porque passou de ano, se comportou, e justamente o dia da entrega é o natal. Em muitos lugares percebe-se apenas os lucros quando se toca na data, as somas em porcentagem sempre aparecem: queremos um aumento de 20, 30 até mesmo 40% em relação ao natal passado, e assim vai. Até ai nada a se preocupar, até porque o pensamento envolvendo o mundo é esse, e não é novidade, mas o que me preocupa é os cristãos absorverem a moeda de troca com as crianças, fixar em seus lares o pensamento mundano, e o “espírito” natalino do mundo fazer parte de um lar que digamos, se identifique como cristão.
A data é um problema à considerar também pelo fato de ser confuso o dia especifico. O que temos ,como Claudionor cita, é “um dia observado pelos cristãos”. Bom, dias específicos temos vários, mas deixamos de observar citando o primeiro dia da semana, morte, ressurreição e festa de pentecostes, além de outras datas específicas e muito importantes para o cristianismo. Mas o natal é um pouco diferente, não envolve apenas uma forma de cristianismo, são várias expressões cristãs no mundo que nesse dia lembram da vinda a terra não de qualquer pessoa, mas a Segunda Pessoa da Trindade, de católicos romanos a protestantes.
A pergunta que fica no meio desse texto todo é: e agora, o que faço? Essa seria minha fala também (rs), mas vamos refletir da seguinte forma:
1 – Sobre o paganismo envolvendo a data. É difícil para um cristão ter que engolir isso, mas se lembrarmos um pouco temos vários motivos para não usarmos algumas expressões comuns em nosso vocabulário, pelo fato de ser tirado da mitologia, usos comuns por povos pagãos etc. olha só: a palavra igreja é grega e não cristã, pentecostes é judaico, cruz é romana, liturgia é grega e essas palavras no inicio de seu uso não expressam nem um pouquinho a fé cristão. Poderia citar tantas outras palavras e datas que “cristianizamos” sem perceber. Devemos lembrar também que, a intenção do papa não era das piores, até porque a historia nos apresenta um homem piedoso e defensor da fé trinitariana. Temos manias de cristianizar tudo e não vejo problema nessa data.
2 – Sobre a data específica que comemoramos. Como havia escrito devemos lembrar o verdadeiro sentido do natal, ainda que seja nessa data, que é a encarnação do Verbo. Devemos tirar toda atenção do mundo no seu 13º salário, indicando onde você deve gastar, as lojas chamando os clientes com mega-promoções, os símbolos natalinos sufocando o sentido... Como cristãos autênticos não poderíamos esquecer a mensagem dos anjos aos pastores: Não temais; eis aqui vos trago boa-nova de grande alegria, que o será para todo o povo.
3 - Sobre os símbolos, eu voltaria atenção ao problema da data. Se sua consciência pesa com a guirlanda, árvores natalinas, luzes, talvez fosse interessante evitar. Mas não procure fazer terrorismo com seus filhos usando esses símbolos, eles acabam atraindo as crianças pela beleza e ela não entenderá. Se seus filhos ficam encantados com tudo isso (dificilmente não), explique o sentido cristão: da árvore (há uma historia envolvendo Lutero mas não posso garantir sua veracidade), das luzes, da guirlanda, e tente apresentar o lado belo, sempre focando a encarnação do Verbo, talvez ajuda bastante.
Concluo dizendo, não sou contra a comemoração em um dia especifico, mas tenho restrições ao foco que tem apresentado o natal. De um lado totalmente mundano, de outro, um lado terrorista tentando achar chifres em cavalos. Como um cristão moderado, tenho sempre o cuidado e devo pesar minhas atitudes para não trazer problemas futuros.
A Deus toda a glória
Referências
- Andrade, Claudionor Correa. Dicionário Teológico. Ed. CPAD 15ª edição 2006, RJ
- Wollpert, Rudolfn Fischer. Léxico dos Papas. Ed. Vozes 1991, RJ
- Enciclopédia Barsa, Encyclopaedia Britannica Editores Ltda, Rio de Janeiro, 1998
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